Casas amontoadas, ruas sem calçadas, sem arborização. A falta de planejamento dos moradores para uma distribuição espacial adequada transforma nossos bairros numa verdadeira catástrofe urbanística. Além da falta de infraestrutura e saneamento básico, que é um problema de responsabilidade do governo, a maior causa da aparência desagradável dos nossos bairros é culpa dos próprios moradores. Desenvolvemos uma cultura de construir nossas casas de qualquer jeito, sem pensar na rua como um todo e no impacto que causará sobre o paisagismo. Muito provavelmente não sabemos a importância disso para a saúde também, que será prejudicada pela poluição visual. Isso fez com que cidades inteiras fossem edificadas nesse molde, e por conseguinte, um país inteiro como o brasil é feito de bairros assim. De norte a sul, o urbanismo no Brasil segue o mesmo padrão e se não mudarmos essa cultura agora a tendência é se solidificar cada vez mais com o passar dos anos.
Enquanto isso, nos Estados Unidos os bairros seguem um padrão que privilegia a arborização. Resultado de um processo de expansão urbanística no século passado, esse modelo de Cidade-Jardim foi trazido da Inglaterra e se espalhou por todo o país. Em todos os bairros as casas reservam um espaço frontal bastante confortável para a arborização e a construção das calçadas. Como não há muros e nem a impermeabilização generalizada do solo, o que resta é um ambiente mais verde, mais aberto, mais ventilado e mais prazeroso para morar; trazendo uma sensação de conforto e tranquilidade, aproximando o homem de seu habitat natural que é a própria natureza; um poderoso remédio, diga-se de passagem, para o estresse da agitação urbana. Bairros assim, além de proporcionar mais saúde para o indivíduo, ajuda a combater problemas típicos de bairros brasileiros como ondas de calor que recaem sobre cidades mais quentes e o problema das enchentes, causadas sobretudo pela ocupação desordenada do solo, que impede a absorção da água da chuva.
Mas por que nossos bairros seguem um padrão tão desagradável assim?
Uma das principais causas sem dúvida trata-se da cultura herdada de nossos antepassados. Depois de uma pesquisa feita com a ajuda do Google Maps percebi que todos os países latino-americanos seguem esse mesmo padrão, que por sua vez é igual ao padrão dos bairros dos seus países colonizadores, como Portugal e Espanha. Ao passo que os bairros americanos e canadenses são iguais aos bairros da Inglaterra, país colonizador dos Estados Unidos e Canadá. O aspecto cultural fica bastante evidente quando comparamos dois países bem próximos como os Estados Unidos e o México. Ao tomar duas cidades vizinhas na fronteira de cada um deles, como a mexicana “Matamoros” e a americana “Brownsville”, percebemos que não há sequer um quilômetro de distância entre elas, mas são incrivelmente separadas uma da outra pela cultura, uma diferença claramente visível na estética dos bairros.
Por conta dessa herança cultural criamos vários hábitos que explicam essa tragédia; um deles sem dúvida são os muros. A forma indiscriminada como as pessoas constroem os seus muros transformam as residências em verdadeiras penitenciárias particulares. Muitos bairros brasileiros possuem casas lindíssimas, mas os muros são tão altos que enxergamos apenas o telhado das residências. Isso retira um dos principais fatores ornamentais da rua que é a própria casa com sua arquitetura individual que somada às outras casas formam um conjunto arquitetônico que embeleza a rua. Mas com muros por todos os lados isso não existe e o que temos são ruas onde a paisagem se resume a dezenas de metros de paredes monótonas que enclausuram seus moradores, transformando as ruas em ambientes vazios e sem vida, aumentando ainda mais a sensação de insegurança para quem caminha por lá.
Outro fator desastroso é o hábito que temos em não reservar um espaço frontal para arborização da casa e o calçamento das vias. Somado ao problema dos muros o resultado traduz-se num terrível impacto para o paisagismo. Não preciso falar da importância da calçada em uma rua, mas só ressalto que seria muito mais bonito adotarmos um padrão em toda a extensão da via, em vez de cada um fazer a calçada do jeito que quiser. Já a arborização é o fator chave na estética urbana. Sem dúvida o principal fator de embelezamento de um bairro está na arborização, e as pessoas sabem disso, mas na prática preferem seguir o modelo que já está sendo adotado no seu bairro, resultando em um estilo típico e nada agradável que já conhecemos. Essa é a razão porque condomínios horizontais fechados, como o “Alphaville”, estabelecem normas rígidas sobre a construção e a reforma em suas residências, pois sabem da importância do paisagismo para a qualidade de vida.
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